25.8.09

Teoria Literária

...E edifico

Palavra
Por
Palavra
O outro de mim
O discurso-limbo do fim?
Não em mim
No outro?
Sim em nós
Apenas escrevo o outro
Que é em mim

E recrio o que é aparente
Mente o passo
Dos aqueles...


(Edner Morelli)

15.8.09

Poema apontando para o norte II


O ápice
Em mim
Dos sentidos
A vida
Um lugar alheio
Do fim
Edifico
O vazio
Na divisão

Momentânea do olhar
Caminho
Sempre-sendo

Aquela velha
Obscuramente
Eterna
Noção imprevista
E rotativa
Das horas

(Edner Morelli)

11.8.09

Sobre a poesia de Welton Sousa e sua Necrose da Palavra


Por Edner Morelli


A poesia de Welton Sousa prolifera de uma atmosfera ultra-visceral, recorrente do estado quase-escatológico da palavra. Versos arquitetados de um impulso rítmico fora dos cânones da poesia dita tradicional. O poeta, em essência, deixa brotar as palavras de seu estado primal-vertiginoso, que é próprio do processo conhecido como automação psíquica, criando uma linguagem surrealista visceralmente andrógena, em que o belo e o feio, o homem e a mulher, o vazio e o preenchimento convivem na unidade paradoxal da própria vida. Gritos fragmentados explorando o afeto do leitor, assim a poesia de Welton mostra-se. Re-mostra-se. Re-cria. Amplifica a própria condição da poesia. As palavras jorram na folha, conotando a verborragia característica dos inconformados, criando sua sintaxe própria. Amplamente metafórico, o texto de Welton possibilita ao leitor adentrar-se no universo caótico da necrose essencial, nos remetendo à própria vida não-isenta da podridão que advém do próprio caráter humano. No entanto, a sensibilidade do poeta extrapola momentos de puro lirismo, criando a pluralidade necessária que envolve a complexidade dos desejos, dos instintos, dos ideais de nossa parca existência.


AS VOZES LÍQUIDAS DOS POEMAS CONVIDAM (Welton Sousa)


O olhar doutrinário insípido divaga
Obra desnuda poemas bêbedos de saliva
Um inquietante DÉJÀ VU
Inferno purgatório paraíso
Alguém aí se importa com a POESIA?
Ou sadismo da ultra-exposição
Reinvento um clássico dos amores do mal
As vozes líquidas dos poemas convidam
A delicada arte de ser/estar
Alegorias medievais da arte pós-contemporânea
Expressionismo literatura marginal duplo efeito e
Legitima defesa
Apresentação dialética dos Homeros Pessoas Machados Andrades ideais filósofos
Eterno sonho do passado imagético
Literatura presença quotidiana algoz deleite
A cabeça semi-favela sonha e delira
E outra realidade menos morta é-nos vedada

10.8.09

Entrevista sobre o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa com o prof. Dr. Maurício Pedro da Silva



O prof. Dr. Maurício Pedro da Silva, Coordenador da Pós-Graduação Lato Sensu em Educação, na Universidade Nove de Julho. Editor científico da Revista Dialogia (ISSN: 1677-1303). Professor de Literatura Brasileira (graduação e pós-graduação) na Universidade Nove de Julho, cedeu algumas palavras para o blog sobre o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa. O professor possui doutorado e pós-doutorado em Letras Clássicas e Vernáculas pela Universidade de São Paulo. também é pesquisador do Instituto de Pesquisas Linguísticas Sedes Sapientiae para Estudos de Português (PUC-SP). Autor dos livros: O Pensamento Dominado. Estrutura e Prática do Texto Dissertativo (Plêiade, São Paulo, 1998); Sentidos Secretos. Ensaios de Literatura Brasileira (Altana, São Paulo, 2005); A Hélade e o Subúrbio. Confrontos Literários na Belle Époque Carioca (São Paulo, Edusp, 2006); O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (São Paulo, Contexto, 2008); Ortografia da Língua Portuguesa. História, Discurso, Representações (São Paulo, Contexto, 2009). Maurício também Possui trabalhos publicados em livros e periódicos diversos, nacionais e estrangeiros.




E.M. Não é novidade na Língua Portuguesa os acordos ortográficos, de tempos em tempos, principalmente, Brasil e Portugal discutem algumas reformulações ortográficas, como a de 1971(Lei n.º 5765 de 18 de Dezembro), em que foi abolido o acento circunflexo na distinção dos homógrafos, responsável por 70% das divergências ortográficas com Portugal, e os acentos que marcavam a sílaba subtônica nos vocábulos derivados com o sufixo -mente ou iniciados por -z-. Na sua visão, qual o verdadeiro objetivo desses acordos?

M.S.:São dois os objetivos alegados pelos idealizadores dos acordos: simplificação e unificação da ortografia. O Problema é que todos esses acordos – e o mesmo acontece com o Novo Acordo, de 1986/1990 – nem simplificam, nem unificam a língua portuguesa. Não simplificam, porque há muitas regras supostamente desnecessárias que ainda permanecem vigentes; há outras que não existiam e passaram a existir; há muitos casos de uso facultativo da grafia, o que torna, às vezes, a situação ainda mais complexa; há, enfim, omissões e imprecisões nas bases do acordo. Não unificam, pois em vários casos as diferenças ortográficas continuam valendo, o que resulta na continuidade de um vocabulário ortográfico duplo para o Português. Assim, os acordos acabam tendo mais objetivos políticos, ligados por exemplo ao prestígio das academias, à imposição de determinados modelos ortográficos etc., do que um objetivo “puramente” linguístico.


E.M.: A unificação atinge quais países?


M.S.: Ela atinge um total de oito países: Portugal; Brasil; cinco países africanos (Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe); e Timor Leste.


E.M.: Na sua opinião, no atual acordo ortográfico, há uma efetiva clareza nas novas regras? Onde podemos encontrar possíveis problemas?


M.S.: Na minha opinião, o acordo como um todo é desnecessário, pois, como disse antes, não cumpre os dois principais objetivos para os quais foi idealizado: a simplificação e a unificação ortográficas. É preciso entender a lógica de alguns fatos ortográficos para se avaliar a necessidade ou não do acordo. É o caso da acentuação, por exemplo. Os acentos existem para neutralizar as diferenças gráficas: se eu acentuo as oxítonas terminadas em -a, -e, -o (vatapá, jacaré, jiló) e as paroxítonas terminadas em –i, -u (táxi, vírus), neutralizei as variações e resolvi o problema da prosódia de boa parte dos vocábulos em Português. Ocorre que o acordo acaba se atrapalhando em alguns casos, resultando em algumas propostas vagas que nem simplificam, nem unificam. Veja o caso dos acentos diferenciais: o acordo prevê a eliminação de alguns deles, a manutenção obrigatória de outros e a utilização facultativa de outros... Cumpre perguntar: afinal o acento diferencial é ou não é importante? Qual o sentido de um acordo que propõe, para um mesmo fato, três “lógicas” diferentes? Outros problemas maiores ainda permanecem em relação ao uso do hífen: há casos em que o hífen permanece como era antes; há casos em que desaparece das palavras; e há casos em que passa a existir, onde antes não existia. E o pior de tudo é que, em razão das indefinições e das lacunas do acordo, isso se torna ainda mais difícil, a ponto de, se consultarmos três ou quatro dicionários reformados, encontrarmos formas vocabulares distintas. Dou apenas um exemplo: as bases do novo acordo definem que alguns termos devem ser grafados de forma aglutinada (isto é, sem o hífen), caso os seus componentes tenham perdido, em certa medida, a noção de independência. Ora, o que quer dizer em certa medida? Para mim, a noção de independência está presente tanto em pára-quedas, quanto em guarda-chuva, sem falar em bate-boca, cabra-cega etc. E, no entanto, muitos relutam em grafar esses vocábulos sem o hífen. Daí o relativo caos que vivemos em termos de ortografia neste momento de transição.


E.M.: As mudanças, basicamente, ocorrem na língua oral ou escrita? Esse novo acordo também atinge a prosódia das palavras?


M.S.: O Novo Acordo se volta fundamentalmente para a escrita, dão o fato de ser um acordo ortográfico... Isso não quer dizer que a prosódia não seja afetada, como acontece, por exemplo, com a eliminação do trema. O acordo propõe a eliminação do trema, que, de fato, já não é mais utilizado em Portugal (oficialmente) e no Brasil (extraoficialmente). Mas, no Brasil, temos duas posições distintas: ou não é utilizado conscientemente, como fazem alguns órgãos da imprensa escrita, sob a alegação de que estariam adiantando uma tendência generalizada, o que me parece um argumento sem sentido; ou não é utilizado simplesmente por não se saber como fazê-lo. Portanto, tudo conspira para sua eliminação. Ocorre que, a meu ver, o trema é um acento necessário para o esclarecimento de alguns equívocos! Qual seria a pronúncia normativa e padrão das palavras “distinguir” e “quinquagésimo” (aqui escritas propositalmente sem trema)? Só a grafia pode esclarecer que, no primeiro caso, não temos o “u” pronunciado, devendo-se grafar e falar “distinguir” (e, não, como diz a maioria: “distingüir”) e, no segundo caso, deve-se optar por “qüinquagésimo” (e, não, como diz a maioria: “quinquagésimo”). Há ainda alguns falantes que dizem “adqüirir”, quando a pronuncia e a grafia normativas é “adquirir”. Esse é apenas um dos casos problemáticos do novo acordo, ligado à pronúncia das palavras.


E.M.: Na sua visão, quando surge um acordo ortográfico, qual o tempo de assimilação da sociedade para incorporar essas novas regras?


M.S.: Isso depende muito de cada país: quanto maior for o empenho em se disseminar o acordo, mais rápida e fácil a assimilação. No Brasil, teremos quatro anos para nos adaptarmos às novas formas; em Portugal, seis. Mas, no Brasil, há um empenho governamental, um tour de force editorial, um apoio dos meios de comunicação para que o acordo entre rapidamente em vigência. Já em Portugal, verifica-se um esforço no sentido contrário, já que as resistências são mais largas e mais profundas. Isso acaba determinando como o acordo é assimilado por cada população. De qualquer maneira, nessa fase do acordo, ainda teremos várias dificuldades que serão sanadas aos poucos, já que tanto a estabilização das diferenças ortográficas quanto a eliminação dos equívocos do acordo necessitam de tempo.


Nesses links, você encontra alguns vídeos do professor falando sobre o novo acordo:





Publicações de Maurício Pedro da Silva relacionadas ao novo acordo:

http://editoracontexto.com.br/livro.php?livro_id=415

http://www.editoracontexto.com.br/livro.php?livro_id=443

6.8.09

Carlos Drummond de Andrade


http://www.youtube.com/watch?v=1PoU8aVRRAI&feature=related
O real e o estar

Des-cubro-me à
sombra inóspita de um
Lado in
sensível
Do estar
Eu quero o real
O pos
sível o in
cansável de nós mesmos
Fluindo a
o orvalho
do ser


(Edner Morelli)

4.8.09

Entre a Diversidade e a Identidade: Segundo Encontro com a Literatura Brasileira Contemporânea

Evento que participarei no Memorial da América Latina.


http://www.memorial.sp.gov.br/memorial/AgendaDetalhe.do?agendaId=1449
Resenha sobre o livro de Marcelino Freire "Rasif"

Por José Castello

http://www.cronopios.com.br/site/resenhas.asp?id=3523

3.8.09

Poema apontando para o norte I

A vida em seu
Estado cíclico
Nos convida a girar
A girar e des-girando-se
Entre memórias e noções ilícitas
O espectro decifrador
Em seu perfeito estado
De essência
Nos oferece a náusea
Necessária
A respiração provocativa
Investigando-se a mostrar
O oculto lado do além-caos
Personificando a tentativa
Aquela
Suposta-e-eternamente
Válida
Para o processo


(Edner Morelli)

2.8.09

Referência sobre minha poesia num livro da Ática






O chão de Rudinei Borges
Por Edner Morelli

A literatura de Rudinei Borges impressiona pela sua simplicidade, comprovando que a boa obra literária nem sempre precisa se apoiar num hermetismo estético que, muitas das vezes, não dizem nada. Por meio de uma prosa memorialista, algo que transita entre o regional e o universal, o autor, com invejável tom poético, apresenta-nos uma revisitação de seu espaço primeiro, no caso, o interior do Pará. Ao optar pela primeira pessoa, a obra adquire uma certa atmosfera autobiográfica, porém, nunca se esquecendo da possibilidade de representação que as imagens literárias nos proporcionam.

O texto de Rudinei, materializado em seu primeiro livro “Chão de terra batida”, beira o relato pessoal, misto de crônica e conto fragmentado, com perdão da redundância. Obviamente, por trás dessa economia de meios de linguagem, os textos desse livro guardam uma potencialidade infindável de sugestões poéticas, como verificamos no texto abaixo, que vai do tom impressionista-cotidiano à surpreendente reflexão existencial-filosófica:

Altar

Mãe rezava o rosário inteiro antes de dormir. E eu baixinho repetia as palavras da mãe: amar significa olhar para as coisas sem sentir saudades delas.

Rudinei cria, ou melhor, re-cria sua própria mitologia, ao recuperar as figuras familiares mais íntimas, os espaços mais longínquos de sua infância-raiz, apontando para um movimento curioso de representação, que abrange o lado interior e exterior do poeta. Como uma fotografia em prosa, Rudinei nos oferece uma visita de seu mundo particular, pois só ele esteve in locus nessas reminiscências, que esse livro possui a pretensão literária de eternizá-las.

Ps. Quem quiser saber mais sobre esse escritor, acesse o blog "rua sétima", indicado na minha lista.
III Seminário Internacional de Linguística da Universidade Cruzeiro do Sul (III SIL)


Evento que participarei expondo parte de minha dissertação de Mestrado.

http://200.136.79.4/sil/index.php

1.8.09


Dialeticamente



A linha divisória do acaso
Permuta no andar vago
E sonolento
No concreto difuso
Diálogo
Da coerência


(Edner Morelli)
Lavoura Arcaica: uma leitura do percurso moral-discursivo-literário das personagens
(Dissertação de Mestrado)
Por Edner Morelli

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=136928