11.8.09

Sobre a poesia de Welton Sousa e sua Necrose da Palavra


Por Edner Morelli


A poesia de Welton Sousa prolifera de uma atmosfera ultra-visceral, recorrente do estado quase-escatológico da palavra. Versos arquitetados de um impulso rítmico fora dos cânones da poesia dita tradicional. O poeta, em essência, deixa brotar as palavras de seu estado primal-vertiginoso, que é próprio do processo conhecido como automação psíquica, criando uma linguagem surrealista visceralmente andrógena, em que o belo e o feio, o homem e a mulher, o vazio e o preenchimento convivem na unidade paradoxal da própria vida. Gritos fragmentados explorando o afeto do leitor, assim a poesia de Welton mostra-se. Re-mostra-se. Re-cria. Amplifica a própria condição da poesia. As palavras jorram na folha, conotando a verborragia característica dos inconformados, criando sua sintaxe própria. Amplamente metafórico, o texto de Welton possibilita ao leitor adentrar-se no universo caótico da necrose essencial, nos remetendo à própria vida não-isenta da podridão que advém do próprio caráter humano. No entanto, a sensibilidade do poeta extrapola momentos de puro lirismo, criando a pluralidade necessária que envolve a complexidade dos desejos, dos instintos, dos ideais de nossa parca existência.


AS VOZES LÍQUIDAS DOS POEMAS CONVIDAM (Welton Sousa)


O olhar doutrinário insípido divaga
Obra desnuda poemas bêbedos de saliva
Um inquietante DÉJÀ VU
Inferno purgatório paraíso
Alguém aí se importa com a POESIA?
Ou sadismo da ultra-exposição
Reinvento um clássico dos amores do mal
As vozes líquidas dos poemas convidam
A delicada arte de ser/estar
Alegorias medievais da arte pós-contemporânea
Expressionismo literatura marginal duplo efeito e
Legitima defesa
Apresentação dialética dos Homeros Pessoas Machados Andrades ideais filósofos
Eterno sonho do passado imagético
Literatura presença quotidiana algoz deleite
A cabeça semi-favela sonha e delira
E outra realidade menos morta é-nos vedada